Maringá, boas lembranças


"Foi numa leva que a cabocla Maringá ficou sendo a retirante que mais dava o que falá..." Eu sempre ouvira minha mãe cantando essa linda canção de Joubert de Carvalho. Pensava que Maringá era um nome masculino, nem sei como cabia nessa música, ainda mais como a "retirante" (o que é isso?) , além de não fazer nenhuma ligação com o nome da cidade. Até que, no final da década de 1960, minha irmã mais velha se casou e foi morar em Maringá. Apesar de ter chorado rios com a separação, uma grande novidade veio com essa mudança: poder conhecer e passear na cidade grande! Ela e o marido se estabeleceram na Rua Luiz de Camões, numa casa simples, mas num lugar bonito, em frente ao Centro Português, um clube bem movimentado. Lembro-me como fiquei deslumbrada com a cidade! Avenidas espaçosas e arborizadas, toda asfaltada, um comércio diferente e moderno, lojas de calçados e roupas, hospitais, praças,o Horto Florestal, onde íamos passear aos domingos. Ah, sem falar na Catedral Nossa Senhora da Glória! Estava em construção e nós gostávamos de subir as escadas até cansar e voltar, apaixonadíssimos pela obra de arte que estava sendo moldada. Passeávamos a pé pela vizinhança, a princípio um pouco temerosos, mas felizes, por conhecer, pela primeira vez, uma cidade grande, poder contar aos amigos, com orgulho, que estivemos em Maringá, ou que tínhamos parentes lá. Passeando pela Rua 15 de Novembro, com suas lindas palmeiras, íamos a pé ao cinema, à Igreja, às compras, caminhando tranquilamente, e voltávamos realizados para a pequena casa onde havia - pasmem - uma televisão! E luz elétrica, chuveiro elétrico, água encanada, enceradeira, máquina de lavar, essas modernidades às quais não estávamos acostumados.Tornou-se, então, uma maravilha viajar para Maringá. Mas como nada nessa vida é perfeito, havia um problema, um pequeno detalhe: uma única linha de ônibus vinha de Presidente Prudente com destino a Maringá, passando pela nossa cidadezinha. E quando chovia, dá para imaginar a situação: se estava indo, não ia, se estava voltando, também não!.... O ônibus, da empresa Andorinha, ficava atolado na estrada de terra e era cada aventura (ou desventura)! Todos os passageiros desciam, não havia banheiro a bordo, às vezes ficava horas parado e os passageiros "apertados", com fome, com vontade de chegar! Outras vezes a chuva durava dias e a sorte era desistir da viagem, conseguindo alguma carona, como caminhão, trator ou jipe, e se conformar! Mas isso também era outra história para ser contada em casa, dando boas risadas. O mais importante mesmo era conhecer Maringá, assistir, pela varanda, as festas do Centro Português, ir ao Centro Comercial fazer compras e passear pelas lindas avenidas maringaenses, na época, uma das cidades grandes mais lindas que conheci! Cogitei até a possibilidade de estudar lá, no Colégio Gastão Vidigal, morando na casa de minha irmã, mas minha mãe mudou de ideia e não deixou. Ainda hoje lembro com saudades daquelas idas e vindas a Maringá e guardo com muito carinho as lembranças das pessoas queridas que viveram e algumas que ainda vivem na minha história e que adotaram, para morar, a Cidade Canção. Pela janela do tempo, por muitas vezes, desfilam na memória doces acordes, ora alegres, ora tristes, de um tempo tão marcante da minha vida e da minha família vividos em Maringá. Principalmente quando escuto a canção que virou nome de cidade, Cidade Canção... "Maringá, Maringá, para haver felicidade, é preciso que a saudade vá batê noutro lugá..."
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Estela Maria Frederico Ferreira, leitora da Folha de Londrina. Carta publicada na edição de 9 de fevereiro de 2019. Ilustração de Marco Jacobsen

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